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quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Um retorno ingrato

Saudações.

Mais de um ano. BEM mais de um ano.

Mal me recordo das funções e como editar posts em blogs. Depois do advento das redes sociais, conseguimos atingir as pessoas com mais rapidez e com mais qualidade. Digo qualidade porque direcionamos nossas opiniões para quem realmente interessa, quem está conectado. Blog tornou-se algo à deriva e disponível para quem estiver navegando por aí.

Mas qual foi minha surpresa ao constatar que mesmo com mais de um ano sem atualizações ainda haviam visitas DIÁRIAS. Sim, diárias!!

Mas não foi curiosidade e busca por audiência que me trouxeram de volta ao Pitaco. Infelizmente. Daí o título. Um retorno ingrato.

A tragédia em Mariana (MG) está consumindo meus dias em pensamentos de tal maneira que nem postagens regulares em facebook tem conseguido apaziguar. Um desabamento que até esta data deixou 7 mortos, 300 famílias desabrigadas, 300 mil pessoas sem água e 25 mil estudantes fora da escola. E tem mais cidades no caminho do desmoronamento.

Posso ser julgado e pode ser polêmica, mas gostaria de ser entendido que não estou desprezando os dados acima. CLARO QUE NÃO. Não quero que a ênfase que vou dar agora, faça acreditar que não há relevância no supracitado, mas o que me tira o sono são os relatos do quanto o meio ambiente foi afetado.

Explico.

Os mortos podem aumentar. As falta d'água, escolas, destruição entre outros danos aos seres humanos. Mas tudo indica que os seres humanos sofrerão MUITO mais dano à longo prazo. Todo o ecossistema que vai até o litoral do ES está comprometido com uma lama contaminada de metais pesados. O solo vai ficar estéril durante anos (muitos anos) e todo animal domesticado e não domesticado no meio do caminho vai ser morto. Vivemos um sistema onde o simples tatu, ou uma gama de insetos é tão importante quando o predado mais no topo da cadeia alimentar. As plantas, as árvores, flores, solo e tudo mais que sai da terra vai morrer e demorar para se recompor.

Já vivemos uma ausência dramática de chuva, então quanto tempo isso levará para ser lavado. Não vim aqui para informar. Tais dados estão aí para todo mundo ver.

Mas o que realmente me causa espasmos de temor e ódio é que tirando quem está diretamente envolvido, há uma dormência brasileira e um engajamento social/político extremamente seletivo. A tragédia é tratada como aquele sequestro relâmpago que passa no "Cidade Alerta". Ou um vazamento da Petrobrás (que por si só já é horrível), ou então ao Cunha escondendo dinheiro fora do país. É tratado como só mais uma coisa.

Confesso que o povo já é sofrido demais e é bombardeado diariamente com tudo quanto é desgraça. Somos todos como médicos insensíveis que diante do cotidiano da morte e das pústulas já não tem mais tratativa empática com o mórbido e o sentimento alheio. Mas esta é uma pústula que vai arder até no médico que trata. Não se enganem. Vai arder em todos nós. Vamos sentir isso. Estando perto ou longe. As consequências só estão começando.

Vivemos num país onde a vida vale menos que a Vale!
Empresa esta que tratou de tirar o Rio Doce do nome para depois tirá-lo do mapa.



4 comentários:

  1. Parabéns! Se não fosse triste eu diria "belas palavras".
    Só complementando, mesmo sabendo que sua intenção não era listar desgraças, somos o topo da cadeia alimentar e muito desses metais pesados irão se acumular em algas, peixes e demais animais até chegar em nós. Nunca saberemos até que ponto fomos atingidos. Quantos cânceres do futuro serão advindos dessa catástrofe.
    Não, não é o apocalipse, mas é preciso atentar para a real gravidade do problema.
    E tudo pq não se investe em tecnologia de reaproveitamento do resíduo. Mais fácil "estocar" no planeta.

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  2. Parabéns! Se não fosse triste eu diria "belas palavras".
    Só complementando, mesmo sabendo que sua intenção não era listar desgraças, somos o topo da cadeia alimentar e muito desses metais pesados irão se acumular em algas, peixes e demais animais até chegar em nós. Nunca saberemos até que ponto fomos atingidos. Quantos cânceres do futuro serão advindos dessa catástrofe.
    Não, não é o apocalipse, mas é preciso atentar para a real gravidade do problema.
    E tudo pq não se investe em tecnologia de reaproveitamento do resíduo. Mais fácil "estocar" no planeta.

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  3. É, estou longe do epicentro da tragédia. Moro no nordeste, lugar que por sua vez já é demasiado sofrido pela falta de águas pluviais. Felizmente, moro na cidade conhecida como Paraíso das Águas e que teve toda a extensão da orla eleita como as praias mais lindas do Brasil. Cabe frisar que eu não sou daqui e não acredito em tudo que dizem nem sei quem elege nada disso.

    Ao atentar para as suas palavras, percebo o quão frio e inerte nos tornamos. Somos incapazes de pintar nossas caras ou nos armar e ir às ruas exigindo a saída da nossa presidente. Estamos assistindo diariamente um show de horrores nas esferas políticas e também no nosso judiciário, legislativo bem como no executivo. São magistrados que aumentam seus salários ou saem dando voz de prisão a torto e a direito, são parlamentares que criam leis para se beneficiarem ou impedir a prática de livre concorrência, são policiais que deflagam disparos contra as vidas de ex-namoradas e seus familiares ou plantam evidências e montam cenas de crime.
    A impressão que tenho é que o ativismo cibernético tornou-se suficiente. Não precisamos mais nos expor, nem correr risco de (conseguir) voltar pra casa (só) com bala de borracha no lombo. Então nos refugiamos e sentimos seguros atrás das telas do smartphone/tablet ou computador. Não reparamos, por exemplo, que leis estão sendo criadas para coibir, incriminar e punir quem se levantar contra os políticos em redes sociais virtuais.
    A sequencia e frequencia de escândalos é tão grande que não conseguimos nos impactar ainda mais porque o efeito anestésico do último choque não passou. Seguimos com a vida, reclamamos dos preços, mas pagamos. Nos revoltamos com os escândalos que a mídia parcial transmite e só esperamos a pauta para o dia seguinte durante o cafézinho na empresa ou na ida ao bebedouro.

    Caro amigo, sei que o desastre será sentido de agora até algumas décadas talvez. Inclusive cheguei a refletir sobre os efeitos de Chernobil, Hiroshima e Nagasaki. Até hoje repercute os maléficos efeitos do ser humano no planeta Terra.

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    1. Palavras muito bem ditas. A inércia deve ser combatida.

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